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Boa Vista - RR, 4 de novembro de 2025 as 08:54

Cessar-fogo entre Israel e Hamas permite regresso de milhares de palestinianos a Gaza

REUTERS/Mahmoud Issa

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Milhares de palestinianos deslocados começaram, esta sexta-feira, a regressar às suas casas em ruínas, após a entrada em vigor de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. O acordo, ratificado durante a madrugada pelos dois lados, prevê a retirada parcial das tropas israelitas e a suspensão total das hostilidades na Faixa de Gaza nas próximas 24 horas.

Entre nuvens de poeira e destroços, longas colunas de famílias avançavam em direção ao norte, rumo à Cidade de Gaza, devastada por uma das ofensivas mais intensas desde o início da guerra há dois anos.
“Graças a Deus, a minha casa ainda está de pé”, disse Ismail Zayda, de 40 anos, no bairro de Sheikh Radwan. “Mas os vizinhos perderam tudo. Bairros inteiros desapareceram.”

O acordo e as trocas de prisioneiros

De acordo com o exército israelita, o cessar-fogo entrou em vigor ao meio-dia, hora local. O plano prevê que o Hamas liberte 20 reféns israelitas vivos nas próximas 72 horas, enquanto Israel libertará 250 prisioneiros palestinianos de longa duração e outros 1.700 detidos em Gaza durante o conflito.

A trégua inclui ainda a entrada imediata de camiões com alimentos, medicamentos e ajuda humanitária, destinados a centenas de milhares de civis deslocados, muitos deles abrigados em tendas após a destruição das suas casas.

Plano Trump e retirada gradual

A iniciativa faz parte da primeira fase do plano de paz do presidente norte-americano Donald Trump, que propõe a retirada das forças israelitas de algumas zonas urbanas de Gaza. Contudo, Israel manterá o controlo de cerca de metade do território, enquanto o Hamas deverá iniciar um processo de desarmamento supervisionado.

Num discurso televisionado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que as tropas permanecerão no enclave “até garantir que Gaza esteja desmilitarizada”.
“Se for alcançado de forma pacífica, melhor; caso contrário, será pela via difícil”, declarou.

Recuo militar e regresso entre ruínas

Fontes locais confirmam que unidades israelitas recuaram parcialmente de Khan Younis (sul) e Nusseirat (centro), embora ainda se tenham ouvido bombardeamentos esporádicos. Tropas também abandonaram posições estratégicas ao longo da costa do Mediterrâneo, em direção à fronteira israelita.

“Não há casas, só escombros — mas queremos voltar”, afirmou Mahdi Saqla, de 40 anos. “Depois de dois anos de deslocamento, regressar, mesmo sobre as ruínas, é uma forma de alegria.”

O porta-voz militar israelita, Brigadeiro-General Effie Defrin, apelou à população para não entrar em zonas ainda sob controlo militar, pedindo que “respeitem o acordo e garantam a própria segurança”.

Reações e garantias

O líder do Hamas em Gaza, Khalil Al-Hayya, afirmou ter recebido garantias internacionais de que a guerra chegou ao fim, asseguradas por mediadores dos Estados Unidos e de países árabes.
O conflito, que já causou mais de 67.000 mortos palestinianos, deteriorou a imagem internacional de Israel e ampliou as tensões regionais, envolvendo Irão, Iémen e Líbano.

O presidente Trump deverá viajar à região no domingo para participar numa possível cerimónia de assinatura no Egito, antes de discursar no parlamento israelita, a convite do presidente do Knesset, Amir Ohana.

Obstáculos e incertezas

Apesar do otimismo cauteloso, persistem desafios significativos.
Ainda não foi divulgada a lista de prisioneiros palestinianos que serão libertados, e o futuro político de Gaza — incluindo quem administrará o território e o destino do Hamas — permanece incerto.
O Ministério do Interior de Gaza, controlado pelo movimento islamista, anunciou que enviará forças de segurança para as áreas abandonadas por Israel, movimento que poderá ser interpretado como provocação por parte de Telavive.

O conflito começou em 7 de outubro de 2023, quando o Hamas invadiu comunidades israelitas e um festival de música, matando 1.200 pessoas e capturando 251 reféns, de acordo com dados israelitas.
Com o novo cessar-fogo, o mundo observa com expectativa se este será, finalmente, o passo decisivo para o fim da guerra que devastou Gaza e redefiniu o equilíbrio político no Médio Oriente.

Fonte: REUTERS