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Boa Vista - RR, 14 de junho de 2025 as 22:37

Temendo tarifas e crise, americanos estocam produtos

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Tarifas de Trump sobre importações mudam comportamento de consumo nos EUA, impulsionando compras por medo e antecipando gastos em meio a incertezas econômicas.

A ameaça de novas tarifas de importação nos Estados Unidos está provocando uma mudança drástica nos hábitos de consumo da população. Com o presidente Donald Trump prometendo tarifas de até 10% sobre produtos importados — e até 50% sobre itens vindos da China —, consumidores de diversas partes do país correm para estocar alimentos, produtos de higiene, medicamentos e itens domésticos, temendo um aumento generalizado de preços e até mesmo uma recessão.

Uma pesquisa recente do site CreditCards.com revelou que 19% dos americanos já aumentaram seus gastos em antecipação às tarifas, e 42% começaram a estocar produtos essenciais. O fenômeno, impulsionado por medo e ansiedade, vem sendo descrito como doom spending — consumo motivado por previsões negativas sobre o futuro. A tendência ganhou força especialmente após o anúncio de Trump de que as tarifas entrariam em vigor no início de sua presidência.

Entre os itens mais comprados estão alimentos não perecíveis, produtos de limpeza, remédios e suprimentos médicos. Eletrônicos, eletrodomésticos e materiais de reforma residencial também lideram a lista, com muitos consumidores enxergando as compras como uma forma de “investimento” diante da possível disparada de preços.

Casos individuais ajudam a ilustrar o clima de incerteza. Em West Virginia, a professora Melanie Moroz intensificou a compra de cosméticos e alimentos congelados, preocupada com a possível extinção do Departamento de Educação e a perda do emprego. Já Angelo Barrio, aposentado do setor de vestuário, revelou ter estocado pasta de dente, azeite de oliva e água em seu porão climatizado. “Você nunca tem certeza de quanto vai precisar”, afirmou.

O cenário se agrava com estimativas da Tax Foundation, que prevê um impacto de US$ 3,1 trilhões nos próximos dez anos, representando um custo adicional de US$ 2.100 por família americana apenas em 2025. A instabilidade no mercado financeiro — com quedas nos índices S&P 500 e Dow Jones — reforça o sentimento de urgência entre os consumidores.

Especialistas alertam que, embora estocar possa ser vantajoso para quem tem condições financeiras, os efeitos da política tarifária devem atingir com mais força as famílias com renda mais baixa e os trabalhadores com contratos recentes. Para muitos, a única alternativa viável é cortar gastos supérfluos e se concentrar no essencial.

“Estou comprando apenas o necessário e observando cada centavo”, relatou Maggie Collins, auxiliar de saúde em uma casa de repouso de Nova Jersey. Com renda fixa, ela trocou marcas tradicionais por opções mais baratas e reduziu o consumo de carne para alimentar os netos.

Com as tarifas prestes a entrar em vigor, cresce o temor de que um efeito dominó leve a novas rodadas de inflação, escassez de produtos e endividamento. Segundo a pesquisa, 23% dos americanos já preveem um aumento nas dívidas de cartão de crédito ainda este ano.

Enquanto isso, supermercados como Walmart e Costco registram aumento na procura por itens em larga escala. O fundador de uma empresa de logística em Los Angeles, Manish Kapoor, compara o momento atual ao início da pandemia de Covid-19. “Ainda não chegamos àquele nível, mas a memória de prateleiras vazias assombra o consumidor.”

Diante de um cenário econômico imprevisível, o americano médio tenta se proteger da melhor forma possível: enchendo o carrinho de compras.